Mito e Filosofia - Eloi Corrêa dos Santos, Osvaldo Cardoso.
O homem
pode ser identificado e caracterizado como um ser que pensa e cria
explicações. Criando explicações, cria pensamentos. Na criação do
pensamento, estão presentes tanto o mito como a racionalidade, ou seja, a
base mitológica, enquanto pensamento por figuras, e a base racional,
enquanto pensamento por conceitos. Esses elementos são constituintes do
processo de formação do conhecimento filosófico.
Este fato
não pode deixar de ser considerado, pois é a partir dele que o homem
desenvolve suas idéias, cria sistemas, elabora leis, códigos, práticas. Compreender
que o surgimento do pensamento racional, conceitual, entre os gregos, foi
decisivo no desenvolvimento da cultura da civilização ocidental é condição
para que se entenda a conquista da autonomia da razão (lógos) diante do
mito. Isso marca o advento de uma etapa fundamental na história do
pensamento e do desenvolvimento de todas as concepções científicas
produzidas ao longo da história humana.
O
conhecimento de como isso se deu e quais foram as condições que permitiram
a passagem do mito à filosofia elucidam uma das questões fundamentais para
a compreensão das grandes linhas de pensamento que dominam todas as nossas
tradições culturais. Deste modo, é de fundamental importância que o
estudante do Ensino Médio conheça o contexto histórico e político do
surgimento da filosofia e o que ela significou para a cultura. Esta
passagem do pensamento mítico ao pensamento racional no contexto grego é
importante para que o estudante perceba que os mesmos conflitos entre mito
e razão, vividos pelos gregos, são problemas presentes, ainda hoje, em
nossa sociedade, na qual a própria ciência depara-se com o elemento da
crença mitológica ao apresentar-se como neutra, escondendo interesses
políticos ou econômicos em sua roupagem sistemática, por exemplo.
Ao
escrever sobre o conteúdo estruturante Mito e Filosofia, os autores preocupam-se
em desenvolver textos que permitam aos estudantes de filosofia fazerem a
experiência filosófica a partir de três recortes, que são: Mito e
Filosofia; O Deserto do Real; Ironia e Filosofia. Além destes, muitos
outros recortes são possíveis dentro deste Conteúdo Estruturante.Mito e
Filosofia: trata do problema da ordem e da desordem no mundo.
O homem,
ao procurar a ordem do mundo, cria tanto o mito como a filosofia. Muitos
povos da antigüidade experimentaram o mito, que é um pensamento por
imagens. Os gregos também fizeram a experiência de ordenar o mundo por
meio do Mito. Estes perceberam que o Mito era um jeito de ordenar o mundo.
A experiência política grega, ao longo dos anos, trouxe a possibilidade do
pensamento como logos (razão), pois a vida na pólis impôs exigências que
o mito já não satisfazia. Mas será que com a filosofia o mito desaparece?
Será que em nossa sociedade ainda nos orientamos pelo pensamento mítico?
Além dessas e outras questões, esse conteúdo procurará as conexões
sociológicas e históricas para entender o mito e o nascimento da filosofia
na Grécia.
O Deserto
do Real: trata do problema da distinção entre pensamento crítico e não
crítico. O que é real, o que parece ser real? Neste Folhas é proposto que
se pense na realidade virtual, tão presente em nosso cotidiano. Quais as
conseqüências disso para a constituição do nosso pensamento? Além disso,
trata-se da condição histórica do surgimentoda Filosofia, o que nos permite
perceber a importância da Filosofia para a constituição da democracia e do
pensamento político. O texto propõe interdisciplinaridade com a Sociologia
e a História. Ironia e Filosofia: propõe a ironia como experiência do
método filosófico.
Basta
olhar para nosso dia-a-dia para perceber a ironia. O mundo é irônico,
enquanto alguns se fecham em suas casas outros estão presos em sua
condição social. É neste contexto que a ironia torna-se uma possibilidade
de exercício do pensamento filosófico. Sócrates é apresentado como o
primeiro filósofo a utilizar a ironia para levar seus discípulos rumo à
aporia para que melhor se apropriassem do pensamento, a maiêutica. Além de
Sócrates, Marx é um filósofo que mostra a sociedade capitalista como sendo
uma grande ironia, com seus ideais de liberdade e democracia, mas que de
fato não dá a todos esse direito. A música e a literatura são
possibilidades de se desenvolver a ironia, seja para lutar contra o poder
político autoritário, seja para questionar e criticar a sociedade burguesa
falso moralista e conservadora.
Os
autores apresentam propostas de atividades que podem possibilitar o
exercício do pensamento, do estudo e da criação de conceitos. Essas
atividades levam estudantes e professores a filosofar por meio dos
conteúdos da História da Filosofia.
Esse exercício
do filosofar ocorrerá por meio da leitura, do debate, da argumentação, da
exposição e análise do pensamento. A escrita constitui-se como elemento
importante de registro e sistematização, sem a qual o discurso pode
perder-se no vazio. É importante lembrar que o processo do filosofar se dá
por meio da investigação na qual estudantes e professores descobrem
problemas, mobilizam-se na obtenção de soluções filosóficas, estudam a
História da Filosofia buscando no
trabalho
com os conceitos o caminho do filosofar e recriar conceitos.
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